Culpa
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Janeiro 28, 2025Terapia de Processamento Cognitivo / Cognitive Processing Therapy (CPT)
Muitas pessoas são expostas a eventos traumáticos.
75% dos portugueses irão experimentar pelo menos um evento traumático ao longo da vida e 43,5% dois ou mais (Albuquerque et al., 2003).
O trauma grave reflete uma agressão à integridade física e psicológica em situações de potencial risco de vida como acidentes graves, violação, combates, assaltos, tentativa de homicídio, catástrofes naturais, objetos cortantes e outros….
No período imediatamente após o trauma a maioria das pessoas poderá desenvolver um conjunto de sinais e sintomas (grupos de sintomas: reexperiencia, evitamento, cognições negativas e estado emocional negativo e persistente, e hiperativação) conhecidos como síndrome de stress pós-traumático. Passado algum tempo, para a maioria das pessoas, esses sintomas diminuem naturalmente e a pessoa recupera-se do evento traumático. Contudo, para uma minoria de pessoas isso não acontece e podem vir a ser diagnosticadas com uma perturbação de stress pós-traumático.
Explicar porque algumas pessoas recuperam do trauma, e outras não, tem sido alvo de variadíssimos estudos. Explicações recaem num conjunto de fatores de risco como antecedentes psiquiátricos, sexo feminino, personalidades borderline, escolaridade…, mas o que sabemos com relativa segurança é que a forma como a pessoa recupera do trauma está relacionada com a sua estrutura cognitiva preexistente (crenças e esquemas cognitivos). Contudo, a imprevisibilidade, sensação de incontrolabilidade e intensidade do trauma poderá desestruturar a mais sólida das estruturas psicológicas!
Há dois tipos de emoções que surgem após os eventos traumáticos:
O primeiro tipo são as emoções que surgem naturalmente a partir do evento. Durante um trauma despoletam-se um conjunto de emoções universais como medo do perigo real…, tristeza com perdas…, ira se foi intencionalmente agredido…, estas emoções naturais têm um curso natural, não durarão para sempre. A menos que haja algo que a pessoa esteja a fazer para alimentá-las! Ainda que desafiante, é importante a pessoa sentir estas emoções, que porventura não se ter permitiu experimentar após o evento, deixando-as correr seu o curso natural.
O segundo tipo de emoções “sentimentos construídos” não resultam diretamente em resposta ao evento traumático em si mesmo, mas na forma como a pessoa interpreta o evento. Se tem pensamentos tais como “eu deveria ter salvo o outro”, “porque fui o único a sobreviver” ou “devo ser um falhado pois não consigo superar isto”, então a pessoa vai sentir culpa, raiva de si mesmo ou vergonha… Estas emoções não são baseadas sobre os fatos do evento, mas nas suas interpretações! Quanto mais a pessoa pensa sobre o evento nestes aspetos, quanto mais sentimentos construídos vai ter.
Ora, estes pensamentos assentes em crenças conflituantes, ou fortes crenças negativas, criam emoções desagradáveis e comportamentos problemáticos ou insalubres, podendo tornarem-se em obstáculos “pontos de bloqueio” na recuperação da pessoa.
Com base nisso, é útil pensar a perturbação de stress pós-traumático como um problema na recuperação. Algo surgiu no processo natural de recuperação.
Durante a terapia de processamento cognitivo um dos nossos objetivos é determinar o que ficou a servir de “obstáculo” e “mudá-lo” para que a pessoa possa recuperar do que aconteceu. Trabalhamos com o paciente para o libertar desses obstáculos – ”bloqueios”.
Assim, durante a terapia de processamento cognitivo tentaremos ajudar a pessoa a reconhecer e modificar o que está a dizer para si mesmo. Noutras palavras, os seus pensamentos e interpretações sobre o evento, que podem ter-se tornado automáticas. Estas crenças distorcidas podem tornar-se tão automáticas que o paciente pode nem estar ciente de que as tem. Mesmo que esteja ciente do que está a dizer para si mesmo, as suas crenças e auto-afirmações afetam o seu humor e comportamento. Muitas vezes, as pessoas não estão cientes dos pensamentos sobre o que estão a experimentar, ou sentir.
Quando ocorre um evento inesperado que não se encaixa nas suas crenças, existem diferentes formas de como a pessoa poderá tentar fazer para ajustar esse evento, essa nova realidade, com as suas crenças anteriores.
Uma forma de tentar fazer para que o evento e as suas crenças “encaixem” é alterando as suas memórias ou interpretação do evento para se encaixar com suas crenças pré-existentes (assimilação). Exemplos de mudança nas suas interpretações / memórias do evento são tentar culpar-se por não ter conseguido impedir o evento (ou proteger os entes queridos), ter problemas em aceitar que o evento aconteceu…, para esquecer que aconteceu…, ou esquecer as partes mais horripilantes da experiência. Alterando o evento pode parecer mais fácil do que mudar todo o seu conjunto de crenças sobre o mundo, como as pessoas se comportam, ou as suas crenças sobre segurança.
É possível que a pessoa, em vez de mudar o evento, possa ter tentado mudar as suas crenças para aceitar o que aconteceu (acomodação). Esta é uma das nossas metas na terapia de processamento cognitivo. Infelizmente, algumas pessoas vão além disso e mudam exageradamente as suas crenças, o que pode resultar numa relutância em, por exemplo, tornar-se íntimo de pessoas ou desenvolver a confiança, e aumentar o medo (super-acomodação). Exemplos que refletem uma mudança extrema em crenças incluem pensar que ninguém pode ser confiável ou que o mundo é completamente perigoso.
Para algumas pessoas que tiveram experiências negativas anteriores na sua vida, os eventos traumáticos podem parecem reforçar ou confirmar estas crenças anteriores. Por exemplo, antes de ter experimentado um trauma poderia ter acreditado que os outros não eram confiáveis, ou que o mundo geralmente não é seguro. O evento traumático vem e parece querer confirmar essas crenças! Ou, talvez foi-lhe dito que tudo foi culpa sua fazendo o reforço da crença. Assim, quando uma coisa má acontece parece confirmar que, mais uma vez, é culpa sua.
As nossas metas na terapia são:
1) Ajudá-lo a aceitar a realidade do evento
2) Ajudá-lo a sentir emoções sobre o evento
3) Ajudá-lo a desenvolver crenças equilibradas e realistas sobre o evento, sobre si mesmo, e sobre os outros.
Saiba mais sobre CPT em www.ptsd-center.com
Ariel Milton, Psicólogo
Founder & CEO PTSD Center